e comungado com ratos,
que tenho me ajoelhado diante da cruz
e esquecido meu punhado de orações,
que tenho frequentado bares em noites vazias
e me embriagado de solidão.
E já não me importo
se os bares fecharem,
se a cruz me crucificar ou
os ratos comungarem
com minha carne.
Dê-me suas mãos
e toque minhas vergonhas.
Sinta como inexisto
para o mundo de possibilidades
e promessas e glórias e
desejos.
ratos, ratos, ratos
Se refestelam à minha frente
sorrindo pequenos delitos.
Rimbaud está numa esquina
se esfregando num mestiço
alto, robusto e com dentes de ouro,
enquanto Verlaine bebe solitário
o seu absinto e carrega sua pistola.
PJ Harvey me atravessa
como um fantasma distorcido
e grito o seu nome sorrindo,
mas minha voz
é como uma súplica
dentro de uma garrafa.
Pessoa pisca para mim e digo:
- Ei, não sou um dos seus moços de frete!
ratos, ratos, ratos
O relógio, eterno ouroboros
incessante e cáustico devorador
que rasga e revira
por dentro de memórias
guardadas a sete chaves.
ratos, ratos, ratos
ratos, ratos, ratos, ratos
mais setes vezes ratos
Eles comungam comigo em becos escuros
e sorriem nossos pequenos delitos.
São Gonçalo, 16 de maio de 2017.
Um comentário:
Ultimamente me sinto como esses ratos...
Muito bom Evoé!
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