.

.

19/07/2011

Meu Peito é Um Cais

Meu peito é um cais
onde aportam sonhos
e despedem-se naus vazias
de esperança, e quando
sutilmente sua fronte
ancorou desejos e despertou
o meu mar de enleios
numa noite tempestuosa, não
tive mais medo dos relâmpagos
que cortavam o céu
escuro da solidão.
Pela noite bebemos juntos
de poemas obscuros
e tivemos o "céu sobre nossas
cabeças", provamos de
nossos aromas entre sombras
chão, nuvens, infinito, estrelas
e lua. E o toque de sua língua
me despertou e me fez sonhar
novamente. E veio a calmaria:
o que o mar traz
o próprio mar leva,
os beijos se tornaram
perenes lembranças,
o perfume permaneceu
fluruando no ar,
os olhos brilharam no porto,
o calor se dissipou,
e desancorada a nau de desejos
se perdeu novamente
no oceano de possibilidades.
O meu peito é um cais,
onde seus desejos podem
novamente ancorar e desfalecer
em outras tempestades.

São Gonçalo, 18 de julho de 2011.


15/07/2011

Beberei o Vinho de Sua Boca

Ninfa das brumas e do verde,
verde olhar que me incita
a querer queimar-me no seu pecado
por uma noite inteira que seja.
Despojar-me de minhas roupas
e pesar meu corpo amargo
sobre sua doçura em flor.
Devassidão é o canto da noite
e o frio da alma que aquece a carne
de desvairados em cantoria boêmia.
Quero por fim, nem uma palavra:
apenas sussurros e gemidos
como orações que se voltam contra
os que as proferem sem fé.
Ó bela ninfa,
virtude das entranhas de deuses lassos,
tens o poder de desviar o olhar
e prendê-lo na virtuosa visão
de seus lábios labirintos entumescidos.
Mas já que não sou digno ao menos
de um beijo, deixe eu beber
o vinho de sua boca.

São Gonçalo, 15 de julho de 2011.


06/07/2011

A Herança do Boêmio

Já estive perdido em escuridões da alma,
já estive no claustro infernal do desejo,
bebi e me embriaguei com as meliads
e cantei à noite do esquecimento.
Hoje, um rei sátiro sem reino, oblíquo
desfazedor do que nunca foi planejado,
enamorado das angustiadas musas
e  escritor de versos jogados ao vento.
O passado rasga o meu presente
e sinto saudades do futuro, que reluz
opaca e fosca luz no fim do túnel
que já não sei se quero cruzar.
Vou fazendo história com meu sangue
e pisando onde não nascerá mais grama,
deixo o meu caminho como herança boêmia
para os que acreditam cegamente
em poetas loucos, pobres, torpes e saudosistas.


São Gonçalo, 06 de julho de 2011.