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10/05/2011

Restos de Mim


Tenho a cadência da vida e da morte.
Sigo para algum lugar que não seja a contemplação
da leitura de meu epitáfio cravado na pedra

(ou quem sabe a mudez indigente no ventre da terra)

Observo o tempo tiquetaquear e conclamar
uma sina de poeta proscrito 
andarilho de um mundo
onde culpa não se culpa.

Vida e morte fazem parte da essência
estampada todos os dias no espelho.
Não sentir é vagar o peito,
é encher o leito,
é beber veneno como se fosse cerveja importada,
é querer e não poder e mesmo que não se queira
a dúvida faz parte da viagem.

Trago em meu corpo não pequenas marcas,
mas cicatrizes de quem aspira intensamente 
e corre a toda velocidade 
até a beira do abismo e
quando lá chega: um grito! 

Meia volta e tudo se repete
numa melancolia saudosa
do velho lobo solitário que uiva 
nas ramagens venusianas diversas 
que norteiam
o sentido vazio da vida.

E mesmo com a cadência
da vida 
da morte
sobre um tempo que não dá tréguas,
sigo adiante,
mesmo que passos tortos me conduzam,
mesmo que sarjetas queiram 
me envolver com o manto da noite, 
mesmo que o beijo perdido seja apenas perdido,
e que o toque não seja um carinho,
seja um adeus.

Poeta. Proscrito. Andarilho.
Triste. Saudoso.
Lobo solitário. Sobrevivente.

Sim, sobrevivo na cadência da vida e da morte
sobre os meus restos líquidos
espalhados no tapete de

"Seja Bem-vindo".


São Gonçalo, de 10 de maio de 2011.

2 comentários:

Janaína da Cunha disse...

Profundo, intenso... cristalino como sua alma.
Lindo!

Carlos Orfeu disse...

escadas poéticas por onde
se desce e se deita,a alma lê
o jardineiro que na alma poda
e colhe flores,estes poemas
eflúviaram o perfume,o perfume de fechar os olhos e voar.