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08/09/2008

Thorazine


Amontoados na cidade obscura,
vidro e metal contorcido.
Rios de carne e lixo comercial
desembocam nas avenidas entrelaçadas
por sonhos tortos capitalistas.

A multidão incrépida, vulgar, voraz,
devora a sensatez e luta como moléculas
por um espaço debaixo de uma propaganda
luminosa, de uma marca famosa e ditadora
que irá aparecer no "horário nobre" da TV.

A humanidade toda deveria tomar Thorazine!
Pelo menos uma ou duas vezes ao dia.
Só assim, as ruas ficariam vazias.
VA-ZI-AS!

E o mundo, na consistência de achar
que no centro do universo existe,
(enquanto todos estivessem sob o efeito da droga)
ficaria em repleta harmonia.

Dessa forma, quase que disforme,
sinto a sua falta em meio a fumaça que me atordoa.
No cinza enegrecido, na ignorância do homem,
sinto a sua falta no perigo que convive ao meu lado,
na tristeza de não tê-la
e ter que dar um sorriso morto pálido.
Mas ninguém se incomoda...
...Quem vai tomar Thorazine?
O homem e sua virtude psicótica...
...Quem vai tomar Thorazine?
Um ruído que corrói minha alma torta...
...Quem vai tomar Thorazine?

Eu vou tomar Thorazine antes que tudo acabe em festa!

E a humanidade e seus conceitos filosóficos, sociológicos, políticos, antropológicos,
psicológicos e filantrópicos
que tome no cu!

O THORAZINE É MEU!
Ah, meu amor...


03/09/2008

Carne e Álcool

Vinho.

Quem não deslumbra o sabor do vinho
Que percorre o tato carnal do desejo?
Ah, a carne e o álcool são prazeres
Nunca esquecidos por guerreiros,
Plebe e poetas.

Carne.

Quem não ama saborear a carne
Entreaberta na luxúria dos tonéis de cetim?
A bem-amada concubina se entrega
Como a uva se deixa fermentar
Pelo tempo em que todos anseiam.

Álcool.

Ente quase etéreo que flutua
No prazer instintivo jamais esquecido
E se dissolve com o ar
Impregnado do vício carnal do amor.

Deuses amam o vinho,
Demônios dançam sobre o álcool,
Homens e mulheres se consomem
Em atos lascivos frenéticos
Abençoados por deuses e demônios.

A mente e a alma são testemunhas
Dos seres trôpegos entrelaçados.
Carne e alma dissolvidas no álcool.
O gozo, licor dos lúbricos amantes,
É o destilado da vida fermentada.

A carne e o álcool,
O álcool e a carne.
Um subterfúgio ácido,
Uma fusão constante de desejos,
Uma volúpia torta sob toques trêmulos.

Os beijos, são fortes aromas da vivacidade
Que se espalham pela alcova enegrecida.
E, é na alcova gótica dos sentidos,
Que por fim, no murmúrio findo da libido
Carnes exauridas de álcool
Adormecem sorrindo.