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31/01/2016

Cantiga de Ninar Monstros

: cáusticos timbres.

Sol na cara lambendo 
a juventude
que se esvai 
com o sopro do tempo.
O amor vai ao supermercado
e traz o almoço:
coração congelado.

Faca que corta o pão, fere a carne.

Desprazer em conhecer
a verdade.
Sexo é bom.
Mas estou entediado
para tirar e botar...

...a roupa. 

Niterói, 14 de janeiro de 2016. 

24/01/2016

Casinhas Bonitinhas Feitas de Chocolate


A casa está vazia, papéis...
muitos papéis espalhados:
poesias, velhas histórias de paixões
que morreram prematuras,
telefones fúnebres e mil 
folhas em branco a serem
preenchidas por ideias vazias
(assim-como-a-casa-está)
e não há um diabo em qualquer
garrafa para tentar-me
à antiga dança na qual já fui
um exímio trôpego bailarino.

Meu peito dói a dor de mil
poemas guardados...
Eles sobem à garganta e 
rumino-os com a paciência
dos monges tibetanos, 
engulo-os novamente e
me vem a azia das noites
mal dormidas dos pesadelos
indecifráveis & meu estômago,
ego, fé, amor, paz, queimam
ao gosto das palavras não ditas -
silenciadas entre os dentes - e
guardadas para as várias folhas
em branco espalhadas.
Vou inchando de insatisfação
e querência, mas a casa
continuará vazia 
até não sei quando 
e a minha alegria
morreu envenenada à minha porta
após uma noite em que eu sonhei
com crianças afogadas e 
casinhas bonitinhas feitas de chocolate.

São Gonçalo, 10 de junho de 2014.

21/01/2016

Pássaros Cegos Assoviam um Blues

- é um sentimento estranho -
quase uma tortura.
É abster-se dos ecos interiores,
é ser abatido em pleno voo
pelo artilheiro de um país insular.
- é um sentimento estranho -
sempre uma decepção.
vento que venta lá
venta sempre por lá.
montar um templo,
seguir a si mesmo no escuro
e ver que o templo
não resiste ao tempo
e ver que os passos
não passam de passado.
canções de ninar,
preços salgados em doces
que não se pode comer
depois de escovar os dentes,
jornais escritos para forrarem
o fundo de gaiolas
onde pássaros cegos
assoviam um blues,
amores líquidos,
passagens para marte em
liquidação,
sonhar de olho aberto
com o mundo quadrado
na palma das mãos.
- é um sentimento estranho -
quando se volta pra casa
e vê que as flores morreram
porque você estava fora.

São Gonçalo, madrugada de 09/01/2016.

Abstêmio em Curitiba

Não bebo nada, nada mais
senão a chuva.
Os bares estão cheios
e estou com sede de poesia,
insensatez e devaneios.
Eu, vazio de possibilidades
vejo as boutiques e rezo
a um São Francisco cachaceiro
que me observa da esquina turva,
branca, fria e crua...
Mas eu só bebo da chuva
e me entrego a saudades
imemoriais, entoadas da alma
e cantaroladas dentro de um peito
carregado de nuvens de lágrimas
e copos cheios de anseios.
Os bares? Os bares estão cheios...
Mas lá eu não vou.
Pois os bares não vendem
chuva engarrafada.

Curitiba, 29/12/2015.