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12/04/2012

Asas de Anjo Decaído

Eu já deixei de ser poeta,
já senti na alma a solidão
e o vazio de outrora
corroendo as asas de anjo
decaído e esquecido no mundo.

O vôo traz o ar da noite
na cidade suja e azeda
em suas ruas de madrugada
o odor de mijo, sangue e vísceras.

Eu já deixei de ser poeta,
e já entoei cantigas de ninar
para o monstro do armário
que se escondia dentro de mim
numa infância consolidada
em risos e lágrimas.

Cachorro morto na lixeira,
fumaça de óleo diesel,
aventuras extraconjugais,
bêbados reverberantes
e ofensas caseiras.

Eu já deixei de ser poeta,
senti prazer e profunda dor
do mesmo lado da moeda.
Bebi com reis e mendigos,
putas e santas juraram
amor e ódio ao meu corpo.

Sonho constantemente com o paraíso
quando estou ardendo no inferno,
e quando estou no paraíso,
sinto saudades em jogar damas
horas a fio com o diabo.

Eu já deixei de ser poeta,
e quando voltei a ser,
percebi o quanto havia poesia
escondida e amassada
embaixo do meu travesseiro
de dormir...


São Gonçalo, 12 de abril de 2012.
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2 comentários:

Carlos Orfeu disse...

"Eu já deixei de ser poeta,
e quando voltei a ser,
percebi o quanto havia poesia
escondida e amassada
embaixo do meu travesseiro
de dormir...

Minha alma sorri,no encanto que acabei de ler
Profundo caro grande poeta
para o sublime não há apalavras
que descreva a beleza sentida de uma poema.

Guilherme disse...

Um belo poema. Que você encontre mais desses versos escondidos e amassados em baixo do travesseiro.