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20/03/2012

De Que Vale Este Mísero Poeta?

De que vale este mísero poeta?

Eu que devoro a carne das mulheres sorridentes e lânguidas em meu leito embriagado de cerveja, vinho e suor, e no dia seguinte devoro novamente, e de novo, e mais uma vez, e após o lume da solidão sufocante luto incansávelmente contra a paixão;

Eu que converso com entidades na solidão do meu claustro escuro nas noites em que todos festejam suas vitórias e choram suas derrotas constantes e amargas que a vida impõe;

Eu que não voto em partido nenhum para não tomar partido dessa lama suja que nos chafurda e mata de fome a nação;

Eu que me embriago e dou o meu sangue ao chão e aos pequenos cães sarnentos pelos amigos que eu amo e prezo;

Eu que mato minha fé e a recupero na próxima esquina rezando a São  Miguel;

Eu que não ganho dinheiro suficiente para uísques importados, cervejas caras, swings, quartos de motéis sofisticados, grandes festas, ternos de marca e arranjos de flores frescas todas as manhãs;

Eu que escrevo e recebo elogios dos que não lêem nas entrelinhas da minha consciência rascante;

Eu que não fumo cigarros mas fumo charutos às custas de amigos sinceros e honestos;

Eu que já cometi o pecado mortal do adultério;

Eu que já menti para mim mesmo não querendo crer na possibilidade de uma progressão aritmética;

Eu que não tenho asas mas vôo sem sair do lugar;

Eu que já matei pequenos animais por esporte e que já salvei insetos por dó de suas fragilidades;

Eu que não lavo pratos de imediato e deixo acumular a loça até a próxima refeição;

Eu que já enamorei a morte em versos e cantos e temo que ela leve a sério aquelas mentiras;

Eu que acredito em milagres pequenos e desdenho dos milagres que nos fazem perder a razão;

Eu que tenho saudades dos que partiram;

Eu que tenho saudades dos que não me procuram;

Eu que tenho saudades de mim mesmo quando tinha vergonha de falar a verdade;

Eu que hoje falo a verdade e, mesmo assim, com a verdade nua e crua, todos riem desacreditados...

Sim, de que vale este mísero poeta?
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2 comentários:

Carlos Orfeu disse...

Caro poeta,estes belos versos longas,tocaram-me profundamente
com a profunda sinceridade.
Toda poesia fala a verdade!
E esta verdade sentimos internamente.
beija os lábios de nossas almas
chuta e dar tapas em nossas caras
entrega lágrimas por correspodência vindas dos poemas

Bom caro poeta é com grande estima que contemplo estes versos tão belos.

Anônimo disse...

idem ao Luis!

Hannar Lorien.