De que vale este mísero poeta?
Eu que devoro a carne das mulheres sorridentes e lânguidas em meu leito embriagado de cerveja, vinho e suor, e no dia seguinte devoro novamente, e de novo, e mais uma vez, e após o lume da solidão sufocante luto incansávelmente contra a paixão;
Eu que converso com entidades na solidão do meu claustro escuro nas noites em que todos festejam suas vitórias e choram suas derrotas constantes e amargas que a vida impõe;
Eu que não voto em partido nenhum para não tomar partido dessa lama suja que nos chafurda e mata de fome a nação;
Eu que me embriago e dou o meu sangue ao chão e aos pequenos cães sarnentos pelos amigos que eu amo e prezo;
Eu que mato minha fé e a recupero na próxima esquina rezando a São Miguel;
Eu que não ganho dinheiro suficiente para uísques importados, cervejas caras, swings, quartos de motéis sofisticados, grandes festas, ternos de marca e arranjos de flores frescas todas as manhãs;
Eu que escrevo e recebo elogios dos que não lêem nas entrelinhas da minha consciência rascante;
Eu que não fumo cigarros mas fumo charutos às custas de amigos sinceros e honestos;
Eu que já cometi o pecado mortal do adultério;
Eu que já menti para mim mesmo não querendo crer na possibilidade de uma progressão aritmética;
Eu que não tenho asas mas vôo sem sair do lugar;
Eu que já matei pequenos animais por esporte e que já salvei insetos por dó de suas fragilidades;
Eu que não lavo pratos de imediato e deixo acumular a loça até a próxima refeição;
Eu que já enamorei a morte em versos e cantos e temo que ela leve a sério aquelas mentiras;
Eu que acredito em milagres pequenos e desdenho dos milagres que nos fazem perder a razão;
Eu que tenho saudades dos que partiram;
Eu que tenho saudades dos que não me procuram;
Eu que tenho saudades de mim mesmo quando tinha vergonha de falar a verdade;
Eu que hoje falo a verdade e, mesmo assim, com a verdade nua e crua, todos riem desacreditados...
Sim, de que vale este mísero poeta?
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2 comentários:
Caro poeta,estes belos versos longas,tocaram-me profundamente
com a profunda sinceridade.
Toda poesia fala a verdade!
E esta verdade sentimos internamente.
beija os lábios de nossas almas
chuta e dar tapas em nossas caras
entrega lágrimas por correspodência vindas dos poemas
Bom caro poeta é com grande estima que contemplo estes versos tão belos.
idem ao Luis!
Hannar Lorien.
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