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20/03/2016

A Vida Dói



A vida dói na essência do corpo.
Sensações análogas da existência.
Dói a dor da complexidade da alma,
êxtase entorpecimento dos sentidos.

O sentinela está morto!

O deus se mostra no cômodo
barato de dormir
numa cópula ensandecida.
A rainha branca
abre as pernas para o peão preto.
Então tudo é mistério...

O universo: carrossel de mistérios!

Todas as lágrimas transformam-se em oceano
quando navegamos em tristeza.
Os ratos invadiram a dispensa,
O cão velho ladra
mas não tem forças para morder.
Não há estrelas no céu da cidade.
Verdade, mentira e omissão:
ménage a trois.

Se o coração já bate,
por que a vida bate?

A vida dói.
As vezes, até sem querer.
Dói na contestação da própria morte.
O mito, queimou-se no incêndio
dos arquivos da biblioteca
(quando ainda não havia internet)
e sumiu para sempre.

O padre reza, o pastor ora,
a mãe-de-santo recebe,
o governo tira, o ladrão toma,
a puta dá, a polícia prende,
o advogado solta, o médico cura,
a testemunha jura, o marido mente,
a cigana ri e o poeta,
o poeta dói.
O poeta dói na essência
e na complexidade da própria vida.


01/03/2016

As Garças do Rio Imboaçu

Vestem-se de negra essência
sobre suas penas
e pescam a desesperança
na agonia de seus dias.

sobrevoam a miséria sob seus olhos -
seus bicos fétidos
tem a misericórdia divina

! e batem as asas da pobreza...
vupt...povertà...vupt... povertà...
vupt...povertà!

Os ribeirinhos maldizem
o voo mendicante mas elas
têm o amor e o perdão de Deus.

Pois Deus perdoa
os pobres
e miseráveis
em seus banquetes vazios
de querência e sofreguidão.

- genuflexão -
[Ah, Senhor, perdoa-nos a nós também
em nossa conduta maldita! Não somos garças, mas somos mendigos de nossas próprias prisões de desejos]


Um brilho vem do céu, mas com ele
a sombra de uma garça que pousa
sobre os restos dos restos de todo
o resto da humanidade.

Pobres criaturas...

Como são pobres as garças
do Rio Imboaçu.

São Gonçalo, 26 de fevereiro de 2016.