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14/07/2015

Cerveja, chope, cerveja...

Saio nas ruas em busca de fôlego, ar pesado carregado, vago cerveja, chope, olhares vazios, sensações de desespero e felicidades plásticas com produtos plásticos de marcas que marcam e ficam nas mentes erguidas e luminosas. Erro passos nos caminhos desfocados e percebo que lá fora tudo é mais distante. Distância que se mede olhando o horizonte e o olhar perdido de perdidos na noite da ilusão em ravisgos que foram por terra.Sim, já não há mais salvação, já não há bote salva-vidas que preste o pulo na poça da angústia, mas há o tempero do ácido, o beijo de Judas, Grapete em garrafas de plástico, Zico na India, calcinhas de amigas secando no box do banheiro, remakes de filmes que julgavam obras-primas, conhaque de gengibre nas esquinas quentes de São Gonçalo, ex-putas carentes que sonham com romance, vida após a morte, políticos sorrindo em eventos de arte, xoxotas raspadas em puteiros de Niterói a 60 pratas, o fim do mundo dos maias, Copa do Mundo, Olimpíadas, veto, voto vendido, voto comprado, venda nos olhos, paixão não correspondida, antiácido, vodka, peido no elevador, sexo na rua, febre ao sol de meio dia, trabalhos acumulados, cerveja, cerveja, cerveja, catador de latinhas atropelado na esquina, churrasquinho de gato, merda, oração de proteção, crianças vendendo chicletes às 2 da manhã, Papa em Cuba, música ruim na jukebox da padaria, o computador não funciona, amigos que não ligam, dormir às 21 horas, punheta, insônia, Raul Seixas estalando na vitrola, molho de tomate vencido, greve de ônibus, cachorro-quente do Careca, amigos que não atendem o telefone, crise nervosa da chefe, dor na costas, Bob Dylan a 800 Reais, cerveja, cerveja, cerveja, achar a bula do remédio genérico, fornicação à vista, tiros, paz, descanse em paz, gentileza gera gentileza, foda-se, fuga para as montanhas, cachorro vira-latas virando lata, fobia de multidão, sorvete de flocos, meias limpas, literatura contemporânea, pratos sujos na pia, objeto voador não identificado às 3 da manhã, saudades do ócio e da barra da saia da mãe... cerveja, chope, cerveja e a solidão está ali sorrindo e dizendo: Sim, eu ainda sou um bom negócio.


Intervenção poética em 2013, no show da banda Wagner José e Seu Bando, na Casa de Vidro no Jazz Blues; Blues Rio das Ostras com o poema "Cerveja, Chope, Cerveja" embalado pelo fundo musical de "Blues da TV".