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30/03/2015

Uivos Libertinos


Singrando nos mares do desejo, entrando-enterrando-e-errando em carnes macias, aromatizadas e ejaculando memórias e vastidões de sentimentos antagônicos. Perfume de pecado. Pecado é não pecar. Pecado é não gozar nos seios da vida lânguida, no vértice de um musgo feminino, nos lábios intumescidos de desejo, e mergulhar na cadência envolvente dos quadris - entregue às orações proibidas porém entoadas em bares, bordéis, casas de swing, ruas escuras e quartos de hotéis (guardados os eflúvios de mil amantes), provenientes dos uivos libertinos de Sade, Lilith, Dalton Trevisan, Charles Bukowski, Baudelaire, Baco, Jim Morrisson, Pakkatto, John Stagliano, Simone de Beauvoir, Jack Kerouac, Safo, Gregório de Matos, Calígula, Bocage, Rodrigo Santos, Carlos Drummond de Andrade, Tamiry Chiavari, Júlio Cortazar, Madonna, Rod Britto, Henry Miller, Vinícius de Moraes, Pier Paolo Pasolini, Lars Von Trier, Frida Khalo, Luz del Fuego, Almodóvar, Cicciolina, Guilherme Zarvos, Nelson Rodrigues, Mick Jagger, Pomba-Gira, Anaïs Nin, Carlos Alberto Prates Correia, Cazuza, Neil Cassady, Vera Fisher, Salomão, Hilda Hilst, Prince, Laurent Gabriel, Dom Pedro de Alcântara Francisco António João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon, Nico, Monica Mattos, Ovídio, Felizpe Frutose, Vladimir Nabokov, Sylvia Kristel, Kátia Flávia-Regininha poltergeist-Marinara... Fausto Fawcett, Larry Flynt, Carlos Orfeu, Rimbaud, Ana Farrah Baunilha, Mario Vargas Llosa, Rita Cadillac, Andy Warhol, Giovanni Boccaccio, John Wilmot, Shirley Fig, Vatsyayana, Tinto Brass, Fabiano Silmes, Pablo Picasso, Dom Juan, Allen Ginsberg, Stanley Kubrick, Petrarca, Freud, Eduardo H. Martins, Peter Ellis, Aleister Crowley, Raffaele Rossi, Giovani Iemini, Valery Bareta, Marilyn Monroe, Àpis, Raul Seixas, Florbela Espanca, Jorge Amado, Millo Manara, Erika Leonard James, Marcelo Farias, Uschi Orbemaier, Leonard Cohen, William Burroughs, Tatiana Ronconi, Michael Douglas, Emmanuelle Arsan, de vários faunos, das putas de Vila Mimosa, das súcubos, dos freiráticos ansiosos por romperem os muros dos mosteiros, da namoradeira que espera o consorte para dar em sua janela que dá para a rua, das seguidoras de Yellamma, das virgens adolescentes nas noites de solidão, das sereias que levam os navegantes contra os rochedos, das viúvas enlouquecidas pelo vinho, do beijo de Drácula, da dança das melíades, da virilidade de Príapo, de todas as indecências e promiscuidades nas cadeias, da polução noturna dos monges, das revelações entre quatro paredes das donas de casa, da secretária obediente, das ninfetas que desfilam nas ruas sem calcinha, dos alunos que sonham com as professoras, dos travestis da Lapa, das matronas saudosas com seus brinquedos de sex shop, dos bailes de Carnaval e de todas as orgias pelos quatro cantos da Terra - e depois de tudo, desfalecer na alcova embriagado de êxtase a espera de mais uma vez, o cio perfeito para pecar.

 

Vídeo gravado no evento Vozes Soturnas, que aconteceu no Porto Pirata, na Praça da Bandeira, RJ, no dia 23/08/14. O texto mudou, sempre muda conforme a relevância putanhesca dos personagens citados.

Inspirado na forma e no ritmo fascinante do texto do poeta norte americano Saul Williams chamado "Def Poetry Jam", escrevi o poema "Uivos Libertinos", em 2012. 

Vídeo gravado por Eduardo H. Martins.

Curiosidade: Os gritos de êxtase ao fundo é do poeta e escritor Rod Britto.

23/03/2015

Partes Partidas


Parti com meu peito partido
para partes de lugares sempre esquecidos.
Inebriado o meu olhar,
insensato o meu sorriso,
parti com o meu peito partido.

Parti com os meus ideais vendidos,
sou um homem estranho
de espírito cansado e vencido.


Um ser esquisito,
de moral utópica abatida
com os olhos de choro embebidos
ou beija-flor do deserto
que corteja a flor perdida.

Sugo o néctar seco do castigo e me sacio
com o acre sabor da ferida!

Parti com meu sonho partido
para partes de um templo esquecido.
Poeira sufoca no ar,
buracos tropeçam no piso,
pois parti com meu peito partido.

Parti com os meus pés escarnecidos,
sou andarilho mundano
com passos tortos e indecisos.


Um ser promíscuo,
viajante imprudente da vida
com os punhos de sangue tingidos
ou beija-flor da cidade
que corteja a flor apodrecida.

Sugo o néctar carbônico dos sentidos e me atingem
com uma bala perdida!


Parti com meu peito partido...


Poema publicado no livro Tudo Que Morre é Consumado (pág. 26, Publicação Independente, 2010).

Vídeo gravado pela Agência Papa Goiaba no evento Uma Noite na Taverna, em setembro de 2014, no SESC São Gonçalo.