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26/10/2012

Erotofobia II (Ou O Filho Que Ainda Não Tive)

Ó Deus, o filho que não tive
está escrevendo!
E mesmo que as estrelas caiam
e que o escorpião perca o seu veneno,
escreve maravilhas, ó Senhor!
Escreve versos temerosos,
poemas santos, cartas de amor.

Tem em seu peito a marca do poeta,
um coração latente,
corre nas veias o spleen de escritor
que ama, se embriaga, odeia, mente
e como escreve, ó meu Senhor!
Retrata aflito glórias, tristezas, louvores
e assassina o presente com rancor.

Esse filho que não tive
que escreve com vontade inanimada
(vadio e rei no mesmo lado da moeda),
que segue a esmo e torto pela estrada
sou eu ó Deus, Senhor!
O pai do filho que ainda é o filho
que traz na alma o desamor.

São Gonçalo, 26 de outubro de 2012. 

01/10/2012

A Um Flamboyant Vermelho

O Flamboyant avança sobre o muro
e beija o asfalto.
Flamboyant vermelho,
asfalto cinza...
O molho está salgado,
febre de 39°,
vista embassada,
boca amarga...
A idade avança
e a esperança estagna.
Já não há verdade sob o céu
ou a mentira é tão falsa
quanto sua própria natureza.
E eu, mesmo que me atire
sobre o muro numa folha
de papel e beije o asfalto
- eu encardido, asfalto cinza -
Não passarei de um poema
sem qualquer sentido.

São Gonçalo, 01 de outubro de 2012.
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