.

.

27/04/2012

Os Dias

Os dias passam rápidos,
as horas se arrastam,
o tempo preso no relógio
em círculos inacabáveis,
inquebráveis e intransponíveis...

O sol nasce, a noite morre,
ressuscita a lua, dormem as
nuvens e suas formas oníricas.
O vento uiva, o lobo chora,
a chuva cai, a terra bebe.

Os dias são presos e estampados
em folhinhas coloridas temáticas.
Mas os dias não têm cor,
nem sentido, nem temas.

Os dias são regidos pelo tempo
preso no relógio.
Pois, enquanto as horas
se arrastam, os dias passam
rápidos voando através da idade
do homem, do lobo, da terra, do vento...

São Gonçalo, 25 de abril de 2012.




12/04/2012

Asas de Anjo Decaído

Eu já deixei de ser poeta,
já senti na alma a solidão
e o vazio de outrora
corroendo as asas de anjo
decaído e esquecido no mundo.

O vôo traz o ar da noite
na cidade suja e azeda
em suas ruas de madrugada
o odor de mijo, sangue e vísceras.

Eu já deixei de ser poeta,
e já entoei cantigas de ninar
para o monstro do armário
que se escondia dentro de mim
numa infância consolidada
em risos e lágrimas.

Cachorro morto na lixeira,
fumaça de óleo diesel,
aventuras extraconjugais,
bêbados reverberantes
e ofensas caseiras.

Eu já deixei de ser poeta,
senti prazer e profunda dor
do mesmo lado da moeda.
Bebi com reis e mendigos,
putas e santas juraram
amor e ódio ao meu corpo.

Sonho constantemente com o paraíso
quando estou ardendo no inferno,
e quando estou no paraíso,
sinto saudades em jogar damas
horas a fio com o diabo.

Eu já deixei de ser poeta,
e quando voltei a ser,
percebi o quanto havia poesia
escondida e amassada
embaixo do meu travesseiro
de dormir...


São Gonçalo, 12 de abril de 2012.
.