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18/08/2011

Ninguém

Diante do abismo,
do monstro interior,
diante do inquisidor,
diante do tudo
e diante do nada,
de um copo de uísque
que vai me atirar na lama,
diante da mulher perfeita,
diante do mito,
da mentira,
da verdade que
propõe-se absoluta
e da oração que se cala
com medo do escuro,
diante da arma apontada
contra o peito frágil,
diante da minha cara
com a barba por fazer
a embaçar o espelho,
diante do novo
e do antigo jamais lembrado,
diante da vergonha,
do medo de amar
e da fácil conduta do desprezo,
diante de você,
da entrega do coração
e da morte da alma,
diante de todos os conceitos
pré-concebidos em livros
empoeirados e licenciosos,
diante da possibilidade,
da necessidade,
da atitude e da omissão,
eu simplesmente
sou ninguém.

São Gonçalo, 17 de agosto de 2011. 

09/08/2011

Meu Peito é Um Cais II

Se meu peito é um cais
e minha alma voa como o vento,
o meu coração está na arrebentação
e observa dolorido
as naus que partem
e se perdem no oceano.

O sol frio como uma laranja
se espreme entre montanhas
e faz o dia se dissipar
como as ondas.

O escuro da noite se verte
e o vinho é o mar dos
desesperados e náufragos
dos desejos.

O que o mar traz, o mar sempre leva.

E vejo a nau partir, mais uma
que se perde ao horizonte
com o crepúsculo e o aroma
de maresia que consome
e enferruja meus sentimentos.

Quem sabe a nau
não achará um porto mais seguro
para ancorar a sua paixão?

E meu cais, mais uma vez se fechará
tomado pela ressaca e o anseio
da desilusão.

São Gonçalo, 09 de agosto de 2011.


01/08/2011

Um Sorriso Como Um Dia Iluminado

Um sorriso como um dia
iluminado de sol,
um toque como o sabor
aveludado do vinho,
um desejo incandescente
a preencher o corpo vazio.

A taça deposta das mãos
do bardo se parte
com o sussurro de lábios
belos e prontos a serem
devorados plenos e indecentes.

Como um beija-flor indigente
toca a rosa solitária do jardim
noturno dos sonhos mais
líricos e devassos,
tocarei a estrela das entranhas
iluminadas e sedentas de prazer.

O sorriso se repete como o sol
nasce a cada dia após se
esvair o manto frio da noite
e aquece o corpo ébrio e
entregue do poeta que já
não se encontra mais vazio.

São Gonçalo, 26 de julho de 2011.