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18/05/2011

Brinquedos de Deus

Uma estrela cadente se apagando
no frio escuro do esquecimento.
Já não há mistério debaixo do sol,
já não há segredo no firmamento.

A lua se esconde na nuvem escura
e cessa o tempo clandestino,
pára o relógio, corta a angúsitia,
nasce o velho, morre o menino.

Não há cantos e orações nas esquinas
na tarde onde o dobre do sino ecoa,
há um céu inteiro preso na alma
onde o peito nu ressequido se esbroa.

Somos brinquedos de Deus recitando
para um mundo de famintos desolados,
caminhamos com o velho adiante
na paisagem de sonhos descampados.

Se brilhar nova estrela no céu
cairá novamente por terra
mergulhando no escuro infinito
onde sonhos e amores se encerram.

São Gonçalo, 18 de maio de 2011.

11/05/2011

Restos de Mim II (Ou Um Homem de Coração de Vidro)

Para Kleber Murilo Peres
Sou restos de mim,
espalhado em estilhaços de alma,
que o vento sopra, carrega
com a poeira do tempo
e da dor.

As partículas do ser inane
se desagregam em constante ciclo
que desalinha a natureza morta
do meu olhar insensato e perdido.

Meus passos rijos, movimentos mecânicos,
mecanismo desfeito de uma vã perfeição,
sou como a vidraça que se estilhaça
com o beijo da pedra
e se entrega ao chão.

Sou restos de mim,
restos de esperanças,
com um coração de vidro
que se quebra a cada ilusão.

Sou restos de mim,
espalhado dentro de um corpo,
que pesa contra o vento
se desfazendo em poeira
e dor.

10/05/2011

Restos de Mim


Tenho a cadência da vida e da morte.
Sigo para algum lugar que não seja a contemplação
da leitura de meu epitáfio cravado na pedra

(ou quem sabe a mudez indigente no ventre da terra)

Observo o tempo tiquetaquear e conclamar
uma sina de poeta proscrito 
andarilho de um mundo
onde culpa não se culpa.

Vida e morte fazem parte da essência
estampada todos os dias no espelho.
Não sentir é vagar o peito,
é encher o leito,
é beber veneno como se fosse cerveja importada,
é querer e não poder e mesmo que não se queira
a dúvida faz parte da viagem.

Trago em meu corpo não pequenas marcas,
mas cicatrizes de quem aspira intensamente 
e corre a toda velocidade 
até a beira do abismo e
quando lá chega: um grito! 

Meia volta e tudo se repete
numa melancolia saudosa
do velho lobo solitário que uiva 
nas ramagens venusianas diversas 
que norteiam
o sentido vazio da vida.

E mesmo com a cadência
da vida 
da morte
sobre um tempo que não dá tréguas,
sigo adiante,
mesmo que passos tortos me conduzam,
mesmo que sarjetas queiram 
me envolver com o manto da noite, 
mesmo que o beijo perdido seja apenas perdido,
e que o toque não seja um carinho,
seja um adeus.

Poeta. Proscrito. Andarilho.
Triste. Saudoso.
Lobo solitário. Sobrevivente.

Sim, sobrevivo na cadência da vida e da morte
sobre os meus restos líquidos
espalhados no tapete de

"Seja Bem-vindo".


São Gonçalo, de 10 de maio de 2011.

01/05/2011

Entra Maio

Todo dia cai um botão
e fenece na terra árida,
o mel já não é mel
e a chama já não se espalha.
Todo dia parece domingo
e toda lágrima já não seca,
a tristeza invade a alma,
a paz cede à guerra.

O fulgor, o alvorecer,
o gosto do leite com biscoitos,
a dor, o esvaecer.

Todo dia o sol beija a janela
e às vezes se cobre de nuvens escuras.
O copo é porta de saída
do líquido que a alma já não cura.

A chama, enfim, se apaga...

O domingo que nunca anoitece,
o corpo deitado na cama
para sentir o peso das coisas
que esquece... entra maio...

São Gonçalo, 28 de abril de 2011.
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