Tenho a cadência da vida e da morte.
Sigo para algum lugar que não seja a contemplação
da leitura de meu epitáfio cravado na pedra
(ou quem sabe
a mudez indigente no ventre da terra)
Observo o tempo tiquetaquear e
conclamar
uma sina de poeta proscrito
andarilho de um mundo
onde culpa não se culpa.
Vida e morte fazem parte da essência
estampada todos os dias no espelho.
Não sentir é vagar o peito,
é encher o leito,
é beber veneno como se fosse cerveja importada,
é querer e não poder e mesmo que não se queira
a dúvida faz parte da viagem.
Trago em meu corpo não pequenas marcas,
mas cicatrizes de quem aspira intensamente
e corre a toda velocidade
até a beira do abismo e
quando lá chega: um grito!
Meia volta e tudo se repete
numa
melancolia saudosa
do velho lobo solitário que uiva
nas ramagens venusianas diversas
que norteiam
o sentido vazio da vida.
E mesmo com a cadência
da vida
da morte
sobre um tempo que não dá tréguas,
sigo adiante,
mesmo que passos tortos me conduzam,
mesmo que sarjetas queiram
me envolver com o manto da noite,
mesmo que o beijo perdido seja apenas perdido,
e que o toque não seja um carinho,
seja um adeus.
Poeta. Proscrito.
Andarilho.
Triste. Saudoso.
Lobo
solitário. Sobrevivente.
Sim, sobrevivo na cadência da vida e da morte
sobre os meus restos líquidos
espalhados no tapete de
"Seja Bem-vindo".
São Gonçalo, de 10 de maio de 2011.