.

.

23/02/2011

O Algoz Assassino de Sonhos

Em meu peito
existe um coração
que espeta,
como os espinhos
das rosas frescas
colhidas do jardim
da desilusão.

Em minha alma,
há um verso
de Piaf que reverbera:
"Balayés les amours
Et tous leurs tremolos
Balayés pour toujours
Je repars à zero ...".*

E diante disso,
pavorosa quimera
me abraça em pesadelos
no lençol amargo
da solidão.
Sensato e algoz
assassino de sonhos,
vulgar coveiro,
catalepsia,
lágrimas de sangue,
abstinência e vãs
orações proferidas.

Suor noturno,
inferno e céu,
anjos e demônios
sopram culpa
e penitência...
e penitente o poeta
segue dolorido
com o peito
estremecido
em caminhos dantes
já trilhados. 

São Gonçalo, 23 de fevereiro de 2011.
(*) trecho de Non Je Ne Regrette Rien, interpretado por Edith Piaf.

19/02/2011

O Reflexo do Lago

Sacrílego desejo que nasce
de meus instintos a contemplar
a tez perene dos anjos notívagos
que vagam e se embriagam
com risos, lágrimas
e toda a voracidade
da perene existência
entre o céu e a terra.

Mergulhar nos braços
e beijar os seios do pecado
nos becos fétidos
e torpes da cidade
inebria-me na constância
fugaz e inane.

Sorvo minha dor,
dou boa noite à solidão
e durmo estrelas
sobre o corpo
ressequido e ferido pelo mundo.

Desfilo mil palavras
em minha mente de esperanças
apagadas e ressuscitadas
e me renego diante
do reflexo distorcido do lago.

São Gonçalo, 2006.