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31/01/2011

A Filosofia do Lobo

Eu sou um lobo
criado ao modo das ovelhas.
Não faça contra mim
que eu não farei contra você.
Não faça contra os meus
que eu não farei contra os seus.

Ouça...
Ouça o meu uivo ao luar
e tema ao se aproximar.
Tema a fúria do lobo adormecido
que desperta voraz quando ferido.

Voraz por vingança,
voraz por justiça,
voraz até sem sentido.
Mas que no momento
repousa em meu peito acolhido.

São Gonçalo, 1993.

26/01/2011

O Muro

Andamos em círculos
em torno de nossos próprios destinos,
vendendo barato as nossas almas
e batemos de frente contra o muro.

Bebemos nossas dores
e angústias nos cantos dos bares
e comemos nos pratos vazios
da coragem e o entupimos de orgulho.

Andamos em círculos
na estrada sem fim e não
encontramos nenhum tijolo amarelo,
mas certamente lá está o muro.

Nos vestimos como putas da alta sociedade
e oramos baixinho para Deus
não ouvir nossos pecados.
E batemos impreterivelmente contra o muro.

O círculo se fecha e já não mais caminhamos,
As lágrimas já secaram e o choro, ah, o choro
é apenas um tênue murmúrio
que jamais atravessará o outro lado do muro.

São Gonçalo, 26 de janeiro de 2011.

08/01/2011

Os Livros

Ser o que podemos ser,
sentir o que podemos sentir,
viver como podemos viver,
na liberdade utópica dos livros


e que a vida nos renega,
mesmo que se poeta, putanheiro,
indigente ou até um mísero homem
que preza pela palavra em si:


LI-BER-DA-DE!!!


Palavra amada, desejada, querida,
quando tomada para si,
porém, se conclamada... restrita...
nunca sempre compreendida.
Somos filhos dos grilhões,
nós somos os grilhões!
Somos os castradores de nossa
própria geração, envolta em manto vil.


O manto sórdido da liberdade.
O manto rubro de Cristo,
a brilhantina de Elvis,
a rebeldia de John Lennon.


O ruído da rua, o rato que roeu
a roupa do mendigo que podia
ser rei de Anarquilópolis
com o cajado da verdade.


E a verdade, sempre maculada
com mártires de ilusão.
Sempre forjada a ferro e gelo
na alma dos pseudo salvos e safos...


E quem está a salvo?
Se podemos ser o que somos?
Se sentimos o que podemos?
Se vivemos assim,
na liberdade que ninguém compreende?


Conforme os livros que deixamos
na estante com o pó do esquecimento.


Terraço Baldio (São Gonçalo), 06:06, 08/01/11, ouvindo Raul Seixas, bebericando Cuba Libre e assim vai... 

04/01/2011

Anoitece

Quero o vento quente da tarde
no gosto da cerveja gelada.
Os cães ladram, os homens mordem
e a caravana se instala
na miséria nossa de cada dia.

Anoitece, horário de verão,
já é tarde para ligar a televisão,
é cedo demais para a boemia
e perco a medida do tempo.

O mundo parece não ser gentil,
orações não são mais ouvidas
porque a fé se tornou moral
pré-concebida. Oremos:

"A poesia nossa de cada dia
nos liberte para a verdade,
nem que seja para a santidade
ou que seja para uma orgia."

O vento quente da tarde
se esvai com o manto frio da noite,
já é tarde, muito tarde, tenho azia
para a boemia e eu não tenho
televisão.

São Gonçalo (Shopping Corcovado), 27 de dezembro de 2010.