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27/09/2010

O Chafariz


Flano através da Zé Garoto
na noite cálida e quente
de um verão infernal
de prantos e desgostos,
com minha marcha indiferente.

A lua não me sorri,
o céu se abre e se fecha.
Confesso nessa poesia maldita,
que por minutos até morri.
A minha música
já não toca em nenhuma festa.

O chafariz que antes, com luzes,
borrifava êxtase colorido,
repousa agora na alta noite
como repousa meu coração
medonho, num túmulo profundo
que é o meu peito dolorido.

Então, numa lenta sinfonia,
contemplo o dia diluir a noite.
Os pássaros compadecidos
cantam minha agonia
e o chafariz desperta prateado
no poeta, uma lágrima de açoite.

São Gonçalo, 15 de setembro de 2006.

16/09/2010

Sacrifício

I

Sangue derramado.
Desvelo do sacrificial desejo
momentâneo de um pobre homem.
Santificado o pecado no vértice
algoz da ciência.
Santificado o beijo perdido
e os sonhos proibidos.
Nos arrastamos na poeira do tempo
da ampulheta quebrada
da incondicional paixão.
Um cordeiro não chora na fila
da degola, os lobos choram os
seus filhos perdidos,
o homem chora por si mesmo.
O ar pesa na candura do aço,
o canto anuncia dor e vitória
mas a vitória sempre é adiada
para um amanhã de desejos
nunca realizados.
O gólgota é terra de todos nós,
onde jogamos, bebemos e
somos crucificados, tal qual
filhos apátridas lançados ao mundo.

II

Imola-se vidas: desejo é tudo!
Vontade é tudo! Tesão é tudo!
Consumismo é tudo! Fé se torna
fraca e vendida em templos
que anunciam um Deus em promoção.
A manta nobre cobre o frio do corpo,
mas a alma gelada queima
incondicionalmente quem cruza o caminho
que se dá para um muro de pedras...
Onde está a escada que leva para
o horizonte cantado nos hinos de vitória?
Onde estão os ecos das palavras que
conclamavam e oravam e gemiam e
blasfemavam e prometiam e prometiam e
prometiam...?
Silêncio.

III

Do amanhã de desejos nunca realizados
escreveu-se um livro de poemas
guardado ao filho do sacrificado
que limpará o sangue derramado
de sua própria geração
de descrentes que vagam e rogam,
que trepam com suas dores
e vomitam seus pesares através
de palavras de ordem e compostura
hipócrita de seus sentimentos inacabados.
E com o sangue derramado,
no desvelo sacrificial no desejo do pobre
homem aos seus filhos imersos
nos silêncios de uma sala escura,
santificados serão os seus versos
no vértice do esquecimento de
todas as vindouras gerações de crentes
e descrentes...
imola-se novas vidas
e o sangue novamente é derramado. 


São Gonçalo, 16 de setemebro de 2010.   

08/09/2010

Amor-perfeito

Aqui, neste vasto campo
chamado mundo
uma graça de flor cheia de amor
murchou.

E a tristeza no meu peito desabrochou
fazendo o Jardim da Esperança,
sagrado desejo de luta
ser renomeado Jardim da Saudade.

Para minha amada mãe Olivia da Graça Narducci dos Anjos
 * 24/06/1950
 + 09/09/2008