.

.

26/03/2009

Caminhar...

Caminhar, caminhos e trilhas tortuosos em áridos pensamentos desconexos da verdade. Sentir o vento árido e seco das mesuras que cruzam o rosto emburrado e insatisfeito do andarilho enfadado da sobriedade que o mundo lhe opera, operando falsos milagres e uma artéria que irá se entupir brevemente por conta de iguarias involuntárias amargas dos botecos imundos da beira da estrada da vida. Viver...viver é um falso milagre. Sobreviver dia-após-dia é realidade que dá tapa na cara e sacode o corpo com terremotos sentimentais de pseudo-paixões-plastificadas-e-empilhadas-nos-cantos-das-paredes-junto-aos-discos-que-já-não-se-ouve-mais. Trilhar por dentro, revirando a carne e sentindo o avesso vir à tona com todas as impurezas corpóreas espalhando-se pelo tapete empoeirado da sala vazia, ecos e urros de virar-se o avesso do avesso. Acha-se o caminho interior e mergulha num impulso de aconchego fetal no abdome da alma. NASCER PRA QUÊ? Ficar acolhido em si mesmo, numa escuridão tênue, calma, e apenas sentir um ou outro solavanco externos, mas pro-te-gi-do. proto-ser de si mesmo. Recrescendo e recriando a vida a partir de próprios medos e incertezas. Incerto é estar seguro com o olhar diante do abismo. Incerto é ser você mais uma vez, engolindo engulho saliva grossa de desgosto sem poder voltar pra fora e novamente desfazer tudo naquele mesmo tapete empoeirado. Voar por dentro não dá. Mas flutuar pode. Flutuar em orgânicos devaneios. Flutuar em esquecimento ao ego. Ego-maquia de suas próprias desilusões estagnadas numa bandeja sobre a mesa do almoço silencioso onde olhar não se cruza com olhar e mentiras são servidas como prato principal. Então, o tudo orgânico, bolo fecal, gosma, e fluídos fisiológicos se desfazem no vaso sanitário, mas o sentimento não. O sentimento rasga, incomoda, dá azia, má-digestão, não há Pepisamar ou sal de frutas que liberte; não há felicidade no fim do arco-íris, não há tempo que passe sutil para que a barba possa crescer e ficar de molho a espera do apocalipse, não há respeito a quem diga a verdade...pois em verdade vos digo, ofensas e ferimentos abertos. Trilhas que findam. Dão num rol de intolerância e maniqueísta sabedoria vã. O feto da alma se revira e percebe que cresce na ignorância. Gritos de fora, gritos de dentro, já não há lugar que se possa estar. Âmago desamparado, tormentos irradiam no raiar do dia e a mãe terra morta, recede num jorrar insano, o aborto dele mesmo.


22/03/2009

Suave é a Tarde

Suave é a tarde
que se despede com a brisa.
Pássaros, grilos saúdam
alvorada alvoraz
de meus sonhos despedaçados.
Suave toda carne cortada
e todo sangue derramado
no véu aveludado de poeira do asfalto.
Os sorrisos de terceiros,
os gritos das crianças,
os sons dos saltos
na calçadas partidas,
a buzinas ensurdecedoras
que violentam tímpanos,
o querer e o não querer,
a dúvida do ir e do vir,
a esperança enlatada e
exposta nas vitrines,
o urro e o silêncio momentâneo.
Ah, suave a inspiração
que ameniza suavemente
o viéis da desilusão.
Praça do Rink, Niterói, 03 de outubro de 2007.

Transmissão

Deite o seu corpo sob o meu
e sinta a transmissão conectiva
da libido, do calor, do pavor,
sinta tudo o que eu transmitir...
Do êxtase profundo, letal
à mera angútia de existir.
Não una os seus medos aos meus.
Na inciência e na ignorância
o meu corpo pesa sobre o seu.
Nas certezas que inexistem,
flutua cândido a te macular,
pois este é o dom que a vida me permite:
sofrer, mentir, morrer e amar.
São Gonçalo, 16 de março de 2009.