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25/12/2008

Espinhos

Ah, não me pergunte sobre as rosas.
Nem daquelas de pétalas tal carnes desnudas
que ao toque tênue da brisa desabrocham.
Rosas vermelhas, pálidas e cálidas;
rosas brancas que embelezam os túmulos
transformando lágrimas em murmúrios
velando a face ríspida inválida.

Mas não me pergunte sobre as rosas.
Nem daquelas que despedaçam ao coleio do vento
e que quando nuas não mais desabrocham.
Rosas negras, falsas e sinceras;
rosas que murcham ao grito algoz do tormento
e que dançam nuas ao relento
com as pétalas carnudas expostas.

Ah, não me pergunte sobre as rosas.

Rio de Janeiro, 07 de abril de 2000.

Do Nada Apenas o Nada

Perdido, sofrido, angustiado,
com fome de compreensão
mamo nas tetas do tédio.
Com um colostro amargo
supro a minha dor.

Insana dor,
pérfida, maldita dor!
Dor cálida de minh'alma.
Alma triste e pressionada
de mais nada no nada.

Busco a lógica na loucura.
Loucura de ser,
loucura de viver,
loucura da busca
de buscar o nada.

Dos olhos um lamento,
do espírito uma cicatriz.
Cicatriz de quimeras de fogo.
Do fogo resplandece as trevas,
do grito sobressai o silêncio.
Silêncio do nada..."OM"...

21/12/2008

Tédio Xadrês (Ou Ode à Minha Geração)

Mil novecentos e noventa e alguma coisa...

Somos o reflexo da geração do tédio xadrez,
embalados, bebês barbudos, em flanela
sob o sol de 40º bebendo cerveja
até a esquina do nunca onde dormem
nossos sonhos tortos distorcidos
numa guitarra Fender canhota.
Somos filhos do medo
de não haver um amanhã,
sem sabermos que a cada momento
o hoje se transforma no depois.
Lágrimas e temas fizeram
de nossa conduta pseudo-rebelde
um ato de omissão!
SOMOS O NÃO!
É...
...nós e nossos ídolos tortos
que berravam anêmicos para a multidão
de descrentes e descontentes...
Jogados nos cantos do submundo
nos encontramos com nós mesmos
em espelhos quebrados
e respingados de sangue.

Niterói, 03 de dezembro de 2002.

Chuva

O tamborilar da chuva enlouquece
minha face inane em plena morbidez,
com um olhar insano ao horizonte que apetece
a dor da vida que embriaga-me de vez.

O belo da chuva: minha angústia de existir.
Faço de sua fórmula plena e natural
o mais fantástico elixir
para curar minha conduta profana e imoral.

Já não sei o que é chuva ou alma,
desse menestrel pálido que voz fala,
que ri e se embriaga com o gosto da amálgama
e no instante seguinte se cala.

A chuva é de tudo o mistério,
das lágrimas do céu intemperoso
e dos relâmpagos que ecoam raios histéricos
ao poeta que vaga inglorioso.


Travessia de barcas Niterói - Rio de Janeiro (Baía de Guanabara chuvosa), 23 de outubro de 2003.

10/12/2008

Versos a Uma Puta

Ó, insensata e esguia puta!
Estes versos que vos escrevo
abstenho-me fúlgido da luxúria
no quarto escuro e fétido
em que te invadi com pecaminosa doçura.

Ó, infeliz e mal-amada puta!
Te invadi sem ao menos tocar seus lábios sedentos,
no coito frívolo em que o amor não se disputa,
como dois animais pérfidos lamacentos
mergulhados no vício da carne em amargura.

Neste quarto vil e fúnebre em que recebestes
mais marujos e bêbados infelizes do que poetas,
vivestes a eterna dor de se deitar
sem receber os versos de oferta
que de seus olhos despertariam a ternura.