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21/08/2008

A Uma Mendiga

Surrada de sol,
faminta de lua,
à beira do abismo
sacia-se nua.

Seu corpo é tristeza,
saudade e medo,
desfez da beleza,
vendeu seus segredos.
Chorou ao relento,
quebrou o espelho,
jogou-se ao vento
sem rumo, sem esteio.

Vadio no inferno,
bebeu todo o céu,
morreu no inverno
sem sonhos ao léu.

17/08/2008

Loucuras de Um Pobre Poeta

Quantas e quantas vezes pisado,
cuspido, escarrado, discriminado.
E nem se dão conta das viagens
em que parti no "martelo agalopado".
Eu vi os olhos brilharem no meio da multidão,
vi os dias que se passaram como um raio
e os dias amargos que virão.
Não sou visionário, não sou profeta...
Quem me seguir será apedrejado
nas esquinas turvas do amor e da paixão.

Já provei da maçã do pecado,
já consumi o corpo de Cristo,
no meu templo empoeirado,
fui salvo em um breve momento.
No dia seguinte,
estava eu novamente comendo da maçã...

Quantas e quantas vezes apontado,
tal como louco com idéias loucas,
por não aceitar, assim, o estado das coisas
flutuando diante de meus olhos míopes cansados.
Sou pobre, mas minha fome de vitória, quase nula,
é voraz.
Ha, ha, ha, ha, ha, ha!!!

Eu e meu mocambo de idéias mal formuladas,
mal trabalhadas, incompreendidas
como sombras inacabadas...
O que faço, apenas por fazer,
faço não por mim, não pelo mundo e nem por você.
Faço porque sou louco,
faço porque sou pobre.
Porque os pobres de matéria e de espírito
são ricos nos versos de agouro.

16/08/2008

Indigestão

Semi-deus dos copos,
dos gostos, desfragmentados,
diversos. Torpe e flácido
Fantasma de alcova.
Rituais não contemplados,
fugaz e repulsivo;
no final da noite
o sol sempre se levanta.
Gosto de sangue, ânsia
de vômito das palavras
engolidas e mal digeridas.
Ruminante caminhante
da insensatez e do desprezo
da própria sombra.
Ingloriosas lutas
jamais travadas.
Amargo fel, transparente,
furtacor. A morte tenta
devorar: Má-digestão!
Corre para o banheiro
do botequim e vomita
num vaso sanitário.
Depois: dá descarga
de volta para a vida!

São Gonçalo (Praça da Trindade), 12 de fevereiro de 2005.

13/08/2008

Baccanale

Vasto mundo, vasto mundo!
Onde caminham num paralelo obscuro
Na celebração da carne e dos desejos imundos
A falange devassa de belas succubus!
Sugo da essência pagã,
Línguas, seios,
No enlevo maculado: devaneios
Da mais requisitada cortesã.

Bebemos e nos embriagamos
Na taça dionísica carnal
O fluído orgástico que jorramos
Num brinde cáustico infernal.

Formidável a visão dos corpos nus extasiados,
Entorpecidos no antro da devassidão,
Com o clangor hedonista sem cansaço
Num limiar análogo de outra dimensão.

Vasto mundo, vasto mundo!
Onde caminham num paralelo obscuro
Na celebração da carne e dos desejos imundos
A falange devassa de belas succubus!